Quando o jogo programado é um clássico Rio Negro x Nacional, fico matutando e a memória me traz à lembrança de um que não esqueço jamais. Faz muito tempo e poucos são aqueles que ainda recordam. Eu era garoto e um torcedor ranzinza da União Esportiva Portuguesa, mas gostava de ver qualquer bom jogo e esse Rio Negro e Nacional chamou-me a atenção porque tinha um aspecto decisivo muito especial. Nosso futebol era amador, no tempo em que o jogador tinha verdadeira adoração pela camisa que vestia e muito difícil era mudar de clube.
COMO FOI
Quase no final do ano de 1939 o “drama” aconteceu mais ou menos assim:
Jogo no Parque Amazonense com arbitragem de Tácito Moura um bom jogador da União Esportiva no tempo de Dico, Rabito, Jokeide Barbosa e Tenente. O clássico, que naquele tempo ainda não era chamado de Rio-Nal, não chegou a terminar. O marcador acusava 4 a 4, resultado que daria o título ao Rio Negro.
Aos 30 minutos do segundo tempo, o árbitro marca um penal contra o Rio Negro. O comandante e ídolo rionegrino, Cláudio Coelho, não se conformou e impediu a cobrança da falta. Segurou a bola (naquele tempo ainda de bico), alegando que “não houve falta alguma”.
O tempo foi passando, discussão dos dois lados e não chegaram a um acordo, mesmo porque apenas uma bola era levada aos jogos. Escureceu e como no Parque não havia luz artificial, o jogo foi suspenso.
NO TRIBUNAL
O problema, como era natural, foi parar no Tribunal da entidade e passou algum tempo para ser decidido, até que foi encontrada uma fórmula que agradou aos contendores: “jogar os quinze minutos restantes, com o marcador de 4 a 4 e começando com a cobrança do penal em favor do Nacional”.
O Parque ficou lotado e eu estava por lá, bisbilhotando aqui e ali, ouvindo os comentários e olhando uma ambulância, quando ainda era chamada de “assistência”, bem equipada, dentro do próprio estádio, abaixo da escadaria do portão principal, para qualquer eventualidade.
O REINICIO

Cobrança o penal, no início dos 15 minutos finais
Os quinze minutos começaram com a cobrança do penal para o gol que dava para a Vila Municipal. O técnico do Nacional, o antigo goleiro Praxiteles Antony, às escondidas, passou a semana toda treinando Pedro Sena na cobrança de penalidades.
O arbitro escolhido era outro, o centro-avante Sálvio Miranda Corrêa, boa pinta, jogador do Olímpico com passagem pelo time de aspirantes do Fluminense, do Rio. Aceitou a dura incumbência na condição seguinte: são quinze minutos cheios, como se faz no basquetebol.
Iano no gol do Rio Negro e Pedro Sena preparado para a cobrança. Com categoria marcou 5 a 4 para o Nacional. Rapidamente foi dada nova saída. A torcida ainda festejava o gol de penal, Cláudio (foto ao lado) esticou para Babá na ponta. Este cruzou e Cláudio fulminou a meta de Joel. Era novo empate, 5 a 5, resultado bom para o Rio Negro.
DECEPÇÃO
O tempo foi passando. Torcedores e dirigentes do Rio Negro, inclusive o presidente Flávio de Castro deixavam a desconfortável arquibancada de madeira para abraçar os seus campeões. Já no último degrau da velha escadaria, ouviu-se uma imensa gritaria. Julgavam que o jogo havia terminado. Puro engano: gol do Nacional quando faltavam 30 segundos. O ponteiro Didi cruzou rasteiro da esquerda e Emanuel entrou de carrinho para marcar o gol do título; Nacional, 6 a 5. Esse jogo foi bom, eu vi e não esqueço.
NACIONAL – Campeão com Joel, Beré Raposo e Otílio Farias; Lupercio, Pedro Sena e Manoel Braga; Casquinha, Barrote, Garibaldi Emanuel e Didi.
Nessa campanha o Nacional ainda utilizou os goleiros Ney Rayol e Manuel Alexandre, o zagueiro Humberto Peixoto e os atacantes Maurício, Jofre Chacon, Dôda.

Titulares e reservas do Campeão de 1939 – Em pé: Humberto Peixoto, Praxiteles Antony, Lupercio, Mauricio, Jofre Chacon, Didi, Doda e Barrote. Agachados: Pedro Sena, Casquinha, Manoel Braga, Ney Rayol, Joel, Manuel Alexandre, Beré e Garibaldi. Na foto faltam os titulares Otílio Farias e Emanuel.
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Author: Carlos Zamith
13 comments
Feliz aniversário, sr. Carlos!!! Mais uma vez, obrigado pelas histórias do nosso futebol brasileiro.
abs
Wanderson
21 de fevereiro de 2010 19:55 ||
Caro Zamith,
Vou aproveitar a lembrança do Wanderson e lhe desejar também muita paz e saúde. E mais uma vez parabéns pelo belo trabalho que faz em prol da memória manauara.
Severino Filho
jornalista e historaidor
21 de fevereiro de 2010 22:28 ||
Wanderson e Severino:
Obrigado pelas congratulações.
22 de fevereiro de 2010 14:06 ||
Sr. Carlos
primeiramente gostaria de lhe parabenizar, mesmo que atrasadamente e também gostaria de lhe fazer um pedido, indignado com a falta de notícias atualizadas do Rio Negro, meu clube de coração aqui no estado, resolvi criar um blog não oficial do Galo, e gostaria de pedir sua permissão (logicamente dando os créditos a quem de fato publicou a notícia originalmente) para publicar em meu blog algumas das reportagens.
Muito obrigado
22 de fevereiro de 2010 15:54 ||
Caro Rodrigo:
Conforme sua solicitação, autorizo a publicação de fatos relacionados com o Atlético Rio Negro Clube
Não esqueça de daar-me o endereço de seu BLOG, para que eu também possa divulgá-lo.
23 de fevereiro de 2010 08:14 ||
Gostaria que pubicasse ou enviasse para mim, alguma reportagem que você fez sobre o Barrote, pois sou neto do mesmo. desde já lhe agradeço
23 de fevereiro de 2010 19:31 ||
Caro Marcelo.
Já publiquei biografia do Barrote no meu blog. Acima da coluna Categorias, há um espaço “Procurar no Bau” digite Barrote, clique que aparece a biografia.
24 de fevereiro de 2010 09:11 ||
Sr. Zamith, por onde essa antiga família Miranda Corrêa, pois só existe o prédio da cervejaria, ainda são proprietários da mesma?
24 de fevereiro de 2010 10:08 ||
Harlen:
A familia Miranda Corrêa era tradicional em Manaus. Gente de pode aquisitivo alto. Alem da Fabrica de Cerveja, a famosa XPTO. possuia uma lindo prédio residencial no alto da Av. Eduardo Ribeiro, onde foi erguido, em seu lugar um horrivel arranha-céu com o nome da familia. A cervejaria tem outro dono.
24 de fevereiro de 2010 14:54 ||
Ainda que com atraso, parabéns Zamith. Postei aquela foto no meu blog – bloggerdoteofilo.blogspot.com. Acho que ficou bonita (rs).
E para o Marcelo Lira, minha esposa tem uma tia que foi casada com o Barrote (filho). Eu até hoje chamo ele de tio (por força de hábito). “Tio Toco”. Também chamo o Papito e o Pitoco de primos e sempre encontro com eles. Se puderes entre em contato comigo teofilomesquita@yahoo.com.br
Com cordiais
Saudações Fastianas!
25 de fevereiro de 2010 17:16 ||
Sr. Zamith, quero que o Sr. comente a equipe do Rio Negro: Clóvis, Edmilson, Maravilha, Catita e Valter, Nonato e Ademir, Rubens, Jadir, Milton Marabá e Paulinho.
26 de fevereiro de 2010 17:44 ||
que boa nota, sr.zamith. osvaldo soriano, grande escritor argentino, tem um relato, “el penal mas largo do mundo”, um jogo é suspenso pela cobrança de um penalti, e continua uma semana depois. o grande “gordo”, sem saberlo, se inspirou na final do amazonenze de 1939. disculpe meu português ruim.
Saudaçoes.
29 de abril de 2010 07:10 ||
Nasci em Parintins em 1953. Morei em Manaus até 1977, onde aprendi a amar as cores azul e branco do Nacional. Desde então moro em Santa Catarina, mas me considero um nacionalino. Fiquei muito feliz por encontrar vocês e poder relembrar de momentos marcantes do Naça e de grandes ídolos do passado do clube, como Marialvo, Sula, Pratinha, Pepeta, Téo, Pretinho e tantos outros. Agradeço por esse presentão.
17 de maio de 2010 23:05 ||